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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dogville


O filme é todo ambientado na cidade que lhe dá nome, onde uma mulher chega fugindo de gângsters e é escondida pelos habitantes da cidade que, no entanto, pedem em troca que ela trabalhe para eles como forma de recompensa pelo perigo que correm ao acolhê-la. Quando a busca se intensifica porém, os moradores não satisfeitos (e conscientes de sua posição vantajosa) exigem mais da fugitiva e a fazem trabalhar incansavelmente, além de servir de conforto sexual para todos os homens da cidade. Dogville então começa a mostrar suas garras.
Lars Von Trier dirige e roteiriza o filme mas a grande sacada do longa não é o roteiro, nem a direção (apesar de contribuírem); e sim a estética. O filme é dividido em um prólogo e nove capítulos, cada um com uma pequena descrição inicial dos fatos que se seguirão. A cidade (Dogville) se restringe a um grande galpão onde as casas são desenhadas no chão, ou seja, as paredes não existem. A proporção também não está lá, o espaço dentro das casas é reduzido, enquanto a presença dos móveis em tamanho normal e das pessoas aumenta a sensação de desproporcionalidade.
Nos perguntamos qual seria a necessidade desse tipo de cenário (ou a falta dele), mas enquanto o filme se desenrola não precisamos esperar muito pela resposta. Logo percebemos que essa forma teatral de ambientação (e também a ausência de uma trilha sonora) tem um propósito. O fato de podermos ver (ao mesmo tempo) tudo o que acontece dentro das casas nos aproxima dos personagens, eles perdem a sua privacidade diante do público. Nos dá a idéia de que, em uma cidade pequena, nada pode ser escondido.
Em uma cena em que Grace, a personagem principal brilhantemente interpretada por Nicole Kidman, é abusada sexualmente por um dos moradores, toda a vizinhança pode ser vista tomando conta de seus afazeres diários, inconscientes do que acontece bem debaixo de seu nariz ou, talvez, indiferentes.
O que não pode deixar de ser destacado porém, é o final apoteótico do filme. Totalmente surpreendente e de uma ironia impiedosa, desperta em nós sensações e desejos que nos fazem refletir se somos tão cruéis quanto os moradores de Dogville, ou apenas tão humanos quanto eles.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha, me deu vontade de ver. E isso é uma crueldade com alguém que não tem tempo. Muito, muito ruim mesmo. Vou anotar no caderninho pra debater contigo daqui pra Janeiro de 2011!