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terça-feira, 3 de março de 2015

Oranjee

Um dos problemas é que eu não posso falar sobre tu com ninguém. Não sei se por conta dos foras e esculachos que já levei, mas não fico à vontade. Na verdade o que eu queria mesmo era falar contigo. Eu queria saber como está a tua viagem, e o que tu já viu aí, e os perrengues, e as surpresas (porque tu fica tão engraçado contando histórias). E queria te contar como tá por aqui. 

Mas Victor disse que eu tenho que segurar o sentimento. E que se já tivesse mesmo sentimento entre nós a gente teria se visto antes de vocês ir. E eu juro como eu tento me segurar nisso, e provar pra mim mesma que o que a gente tem (a gente tem alguma coisa?) não é nada, ou não é nada especial. E que é só carne, é palpável, mas é só físico. Mas para mim é mais que isso. E o meu medo é essa relação unilateral de novo. Porque eu já gosto tanto de você, a gente tem tanta coisa em comum. São muito mais reais as nossas convergências do que eram as minhas com aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Porque caramba, como é ruim isso! Dar sempre e não receber nada.

E tu é tão bom em tudo; tranquilo, generoso, inteligente, gostoso, engraçado (tenho até vergonha de rir de tudo que tu fala, como uma idiota) e etc. Seria muito bom aprender mais sobre você – e me dá uma agonia que eu já tenha escrito isso nesse blog sobre outra pessoa. E eu sei que o que a gente teve foi pouco e que todo mundo me julga quando eu demonstro interesse depois de tão pouco. Mas pouco é muito pra quem nunca teve grandes coisas.

E ontem, enquanto tentava puxar assunto com as meninas no whatsapp e me segurando para não falar sobre você foi que finalmente me ocorreu; que não é que ninguém quer me escutar, sou eu que estou com vergonha de falar sobre isso com as minhas amigas. Com minhas amigas, com quem eu falo sobre tudo! Vi que eu tava com vergonha de me expor, de dizer o quanto eu estou interessada e parece que você não. Porque parece que isso está acontecendo mais uma vez, para variar. E eu me sinto como uma idiota por desejar que tudo isso (a gente) dê em alguma coisa, porque nunca dá. 

E eu lembrei do que eu tava sentindo antes d’aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Eu sentia uma liberdade para gostar e deixar isso transparecer, porque a gente não precisa ter vergonha de gostar de alguém. E se a pessoa não gosta de volta não é nossa culpa, nem dela, e a vida segue. E acho que o que eu tenho é medo, medo de você não gostar de volta. Então eu fico pensando no futuro, em como vai ser, e com receio de você não gostar de volta e, principalmente, com receio do que eu vou sentir quando tiver certeza disso.  

Um comentário:

Rayana disse...

Eu tava pensando nisso outro dia - de que às vezes existe esse querer de compartilhar 'a pessoa' com outros, um amigo, um confidente, um sei lá. Mas não rola. Eu tô meio numa fase parecida, sabe, com um monte de coisas na cabeça e no coração, uma vontade idiota e infantil de compartilhar com deus e o mundo, mas com medo de não ser via de mão dupla. Tô tentando manter pra mim, ainda mais que fico com a impressão de que além dos olhares recebidos, ainda rola uma expectativa criada pelos outros. E rola de ouvir a opinião dos outros. Assim, tô tirando minhas conclusões pelo que li de tu.

No meu caso até pode vir a ser, mas eu tenho um medo danado só de imaginar. Gostar as vezes não é o suficiente, ainda mais gostar sem saber se a distância vai dar conta de manter o sentimento vivo. Pra fazer acontecer a gente tem que se empenhar, manter vivo o carinho, a admiração, saber da vida um do outro... Minha opinião de romântica-idiota, é que a gente tem que arriscar, sim. Perguntar, ver se consegue uma notícia boa de quem ta distante, amar um pouquinho mesmo sabendo que não vai dar em nada.

E se a pessoa não gosta de volta, a culpa não é de ninguém. A vida segue.

rayanaverissimo.com/blog