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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Indícios apontam existência de vida inteligente no Sítio Histórico

Eu ri bastante quando uma amiga minha (aquela fofinha que pensa cada coisa!), chegou pra me dizer que antes de me conhecer achava que não morava ninguém no Sítio Histórico de Olinda. Ela achava que devia ser assim como um cenário ou um set de filmagem; as casas todas vazias, só aparecia alguma alma viva em fevereiro mesmo. Como uma cidade zumbi, que só se enche no Carnaval, com gente de fora, quando os donos das casas (que não moram lá) alugam suas casas vazias para pessoas de outros estados e marcas de bebida e canais de TV.

Para acabar com essa fantasia, deixa eu dizer a vocês... existe vida no Sítio Histórico de Olinda além do Carnaval! Olha, que beleza!

Apesar de não ter tanto movimento quanto uma Boa Viagem da vida, as pessoas moram e vivem aqui. E até parece um bairro mesmo (oficialmente não é). Além de ladeiras, ruas estreitas, Quatro Cantos, pousadas, Creperia, igrejas, Licoteria e inúmeras galerias, tem também restaurante, padaria, mercadinho, sorveteria, salão de cabeleireiro, posto de saúde, fiteiro, escolas e delegacia de polícia (Tourist Police, que a gente é chic).

De manhã parece mesmo é cidade pacata do interior. Não tem carro de som, nem carrinho de CD’s piratas, ninguém escuta som alto, não passam muitos carros, não tem semáforo. Tem é gente andando a pé, de bicicleta, indo pro trabalho ou pra o colégio e dando “bom dia”. Lá pras 11h aumenta o movimento porque os turistas vão passear, de boné, tênis, meia no meio das canelas e câmera nas mãos. Sempre tem em média uns três ônibus de turismo estacionados aqui perto de casa. Nota: morar no Sítio Histórico é aprender a reconhecer gringo de longe e saber dar informação em mais de uma língua ou, para o caso do monoglota, em língua de sinais.

À tarde a gente vai passear no Sítio de Seu Reis com o cachorro, onde tem sempre gente correndo, não importa o horário. Tem também Tai chi chuan e dança pra quem quiser. Se quando começar a escurecer já for sexta ou fim de semana aí sim, tem mais gente na rua. E dá para ouvir as alfaias da sala de casa. Principalmente quando tá chegando o Carnaval.

Daria pra saber que ele está chegando mesmo sem o calendário e sem que todo mundo precisasse lhe lembrar a toda hora no Facebook e na TV. São as placas de “aluga-se”, as fitinhas coloridas penduradas nas ruas, as pinturas novas das casas, a decoração feinha e igual todo ano da prefeitura, os bloqueios de carros e a pressão pra pegar logo o seu adesivo de morador.

Quando chega na dona sexta-feira, antes do seu Zé Pereira, o movimento aumenta, assim, só um pouquinho. É preciso uma meia hora pra se atravessar uma rua e todos somos agraciados com o famoso perfume biológico que impregna algumas delas. Todo mundo diz: “nossa, deve ser muito bom morar no meio da folia!” Eu não vou mentir: é bom. Mas dá trabalho. É acordar às 6h pra, antes de sair, lavar o banheiro social que vai ser usado por todos os seus amigos e conhecidos (até desconhecidos apertados, às vezes) que você nem lembrava mais que existia, mas que, no Carnaval, resolvem lhe fazer uma visita rápida porque estavam “de passagem”. Além disso, é preciso limpar a casa (cheia de pegadas deixadas pelos visitantes no dia anterior), encher a garrafa d’água, providenciar os copos de plástico e colocar a mangueira do lado de fora para o caso de alguém vir pedir para dar um banho no amigo bêbado desacordado. 

Tudo isso a gente aguenta feliz e de sorriso aberto porque, afinal, é Carnaval! E, amiga, por mais que a gente ame esse pedacinho da cidade todos os dias do ano, nunca se ama tanto esse lugar quanto durante os quatro dias de Momo.

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