Para acabar com essa
fantasia, deixa eu dizer a vocês... existe vida no Sítio Histórico de Olinda
além do Carnaval! Olha, que beleza!
Apesar de não ter tanto
movimento quanto uma Boa Viagem da vida, as pessoas moram e vivem aqui. E até
parece um bairro mesmo (oficialmente não é). Além de ladeiras, ruas estreitas,
Quatro Cantos, pousadas, Creperia, igrejas, Licoteria e inúmeras galerias, tem
também restaurante, padaria, mercadinho, sorveteria, salão de cabeleireiro, posto
de saúde, fiteiro, escolas e delegacia de polícia (Tourist Police, que a gente
é chic).
De manhã parece mesmo é
cidade pacata do interior. Não tem carro de som, nem carrinho de CD’s piratas,
ninguém escuta som alto, não passam muitos carros, não tem semáforo. Tem é
gente andando a pé, de bicicleta, indo pro trabalho ou pra o colégio e dando
“bom dia”. Lá pras 11h aumenta o movimento porque os turistas vão passear, de
boné, tênis, meia no meio das canelas e câmera nas mãos. Sempre tem em média
uns três ônibus de turismo estacionados aqui perto de casa. Nota: morar no
Sítio Histórico é aprender a reconhecer gringo de longe e saber dar informação
em mais de uma língua ou, para o caso do monoglota, em língua de sinais.
À tarde a gente vai
passear no Sítio de Seu Reis com o cachorro, onde tem sempre gente correndo,
não importa o horário. Tem também Tai chi chuan e dança pra quem quiser. Se
quando começar a escurecer já for sexta ou fim de semana aí sim, tem mais gente
na rua. E dá para ouvir as alfaias da sala de casa. Principalmente quando tá
chegando o Carnaval.
Daria pra saber que ele
está chegando mesmo sem o calendário e sem que todo mundo precisasse lhe
lembrar a toda hora no Facebook e na TV. São as placas de “aluga-se”, as
fitinhas coloridas penduradas nas ruas, as pinturas novas das casas, a
decoração feinha e igual todo ano da prefeitura, os bloqueios de carros e a
pressão pra pegar logo o seu adesivo de morador.
Quando chega na dona sexta-feira,
antes do seu Zé Pereira, o movimento aumenta, assim, só um pouquinho. É preciso
uma meia hora pra se atravessar uma rua e todos somos agraciados com o famoso
perfume biológico que impregna algumas delas. Todo mundo diz: “nossa, deve ser
muito bom morar no meio da folia!” Eu não vou mentir: é bom. Mas dá trabalho. É
acordar às 6h pra, antes de sair, lavar o banheiro social que vai ser usado por
todos os seus amigos e conhecidos (até desconhecidos apertados, às vezes) que
você nem lembrava mais que existia, mas que, no Carnaval, resolvem lhe fazer
uma visita rápida porque estavam “de passagem”. Além disso, é preciso limpar a
casa (cheia de pegadas deixadas pelos visitantes no dia anterior), encher a
garrafa d’água, providenciar os copos de plástico e colocar a mangueira do lado
de fora para o caso de alguém vir pedir para dar um banho no amigo bêbado
desacordado.
Tudo isso a gente aguenta feliz e de sorriso aberto porque, afinal, é Carnaval! E, amiga, por mais que a gente ame esse pedacinho da cidade todos os dias do ano, nunca se ama tanto esse lugar quanto durante os quatro dias de Momo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário